O mundo está feito de histórias. São as histórias que contamos, escutamos, multiplicamos que permitem converter o passado em presente e o distante em próximo, o que está longe em algo próximo, possível e visível” (Eduardo Galeano, 1940 – 2015).
Eu e Adriana W Marreiros estivemos no evento e vamos dividir aqui o que vivenciamos por lá…
O evento foi aberto com um vídeo da feminista Chimamanda Adichie: o perigo de uma só história.
Na sequência a primeira mesa se compôs e a fala foi de Eleonôra Prestrello (UERJ) que nos convida a pensar sobre o que chama de processos de coisificação em que uma única história contribui para a formação de esteriótipos e invisibilidades anulando as subjetividades. Finaliza sua fala nos levando a pensar a situação da clínica a partir da proposta de Jean-Marie Delacroix quando este fala nas três histórias, a do terapeuta, a do cliente e a terceira história que se cria neste encontro, é a “cocriação através da reatualização das histórias passadas, do presente e das expectativas futuras.”
A segunda fala foi de Márcia Moraes (UFF) que provoca: “o que fazemos existir com as histórias que contamos”, aponta o quanto que em seu trabalho com pessoas cegas e de baixa visão ela percebe um movimento polar de heroísmo/tragédia em que as singularidades ficam apagadas, minimizadas. Como se o sujeito que enfrenta uma situação deficiente fosse visto somente sob a perspectiva heróica ou trágica e não houvesse espaço para questões existências de um se fazer continuo em que a fronteira entre eficiência e deficiência é redesenhada. A psicóloga assinala o corpo como verbo, o corpo eficiente que rompe com o dado do conceito de deficiente.
“Afinal o que são corpos eficientes? O que define um corpo?
Moraes, Márcia.
A mesa segue com Luciana Cavanellas (FIOCRUZ) que em sua fala nos trouxe fragmentos de cinco histórias em dois tempos, primeiramente um pequeno fragmento nos foi apresentado e depois o desdobramento que mudava de alguma maneira o significado provocado pelo primeiro momento, o que havia de comum nas cinco narrativas era somente ela em seus vários papéis, terapeuta, pesquisadora e até coordenadora de Saúde do Trabalhador, nos trazendo o quanto que a mesma história pode ter nuances variadas e fronteiras opostas em um mundo conflitante, entretanto chama atenção para importância de se ter fronteiras permeáveis em qua a existência está para além da oposição e dos conflitos, está no “e” e não no “ou”, de maneira a nos permitir um mundo de possibilidades.
Laura Quadros (UERJ) fechou a mesa da manhã nos trazendo uma narrativa a respeito de um caso vivenciado no plantão de atendimento do SPA (Serviço de Psicologia Aplicada) junto da estagiária com quem realizou o atendimento. Sua fala nos sensibiliza diante os pormenores desde encontro em que há busca por um novo sentido de vida, resignificando a “seis mãos” a história de cada uma delas.
Laura fecha sua fala com a tocante canção de Milton Nascimento:
Na parte da tarde dois seminários de casos clínicos, o primeiro com a psicóloga Luciana Soares: “o atendimento a uma criança autista: caminhadas de inventar com” em que nos foi relatado de forma sensível e emocionada sua experiência e a partir dela nos convidando a pensar:
- Diálogo
- Disponibilidade
- Conhecer pela ação
- Suportar o indizível
- Presença
Soares assinala a importância do gestalt-terapeuta se distanciar da busca pelo encontrar, no sentido de encontrar respostas, apenas permitir o brotar do inexplicável, do sensível, do afeto. Nesse encontro não se pretendeu resgatar a tal criança interior do terapeuta, mas promover um encontro genuíno com esse cliente.
O segundo seminário foi de Luciana Cavanellas e Ronaldo Miranda com o título “o real virtual: em busca de uma conexão melhor”, teve como disparador dois vídeos, o trailer do filme: Homens, Mulheres e filhos.” e um shot filme publicitário.
Os psicólogos narraram algumas experiências de atendimentos neste formato, e destacaram pontos importantes para pensarmos:
- Ajustamento criativo, já que é um novo formato tanto para o cliente quanto para o terapeuta.
- Autorregulação, na tentativa de dar suporte as possibilidades que existem para esta relação acontecer.
- O recorte fotográfico é outro, já que existe a limitação que pode dar foco para alguns terapeutas e ser limitador para outros.
- As diferenças de fuso que trazem uma adaptação para terapeuta e cliente, um pode estar acordando e dando início ao seu dia enquanto o outro pode estar no meio do dia.
- Qualidade de conexão é fundamental para que não ocorra quebra de pensamento e fluxo de atendimento.
Os palestrantes ressaltam que não estão partidários ou apartidários desta ferramenta, apenas propondo pensar a respeito desta possibilidade e destacam a importância do questionamento: “o que é a essência da clinica para cada terapeuta?
“O presencial não é uma prerrogativa de encontro”
Miranda & Cavanellas
Autores:
Flavia F Silva & Adriana W Marreiros.
Quero participar do XIV Congresso Nacional em Fortaleza.