As equipes de Psicologia dos Centros de Cidadania LGBT e LIDIS/UERJ realizaram entrem os dias 06, 07 e 08 de agosto o evento:
Seminário Desafios das Práticas no Campo das Transdiversidades.
Confira aqui como foi a programação
Eu estive no evento e compartilho aqui minha experiência.
O evento trouxe à tona uma série de termos como vulnerabilidade, patologização, entre outros. E com isso trouxe para os já inseridos no contexto, uma sensação de possibilidade de espaço acadêmico, para os nada familiarizados, uma visão mais ampla e provocativa.
As discussões permearam por temas como: a possibilidade de cirurgia como um direito e não como uma fase de um tratamento onde o sujeito transexual (trans) precisa ser rotulado de maneira “patologizante”, permitindo assim uma vulnerabilidade, sendo empurrado para uma situação de invisibilidade compulsória, em que ocorre o rompimento do vínculo social. Possibilitando a estigmatização desses indivíduos, de forma que o rótulo precede o sujeito, como alertou Carolina Motta em sua fala. Em várias mesas nós profissionais da psicologia, fomos convidados a pensar nosso lugar, nosso compromisso com a saúde global, e eu como Gestalt-terapeuta diria que com o potencial de saúde existencial de todo sujeito. Fomos provocados a pensar nosso compromisso com a desconstrução do discurso patologizante e que muitas vezes está acompanhado de um peso de empoderamento institucional.
Pensar o direito de cada um estar fora do padrão dicotômico imposto, possibilitar e validar esse lugar de trânsito, individualizar as dificuldades e as queixas para cada sujeito trans, retirando do meio social a batuta de ditar regras que poderiam vir a “normatizar”. A quem interessa a norma? Qual é a norma? Em nome de que verdade trabalhamos?
O evento em cada participante, transexual, Cisgênero, Heterosexual, Homosexual, ou ainda, em cada profissional envolvido, marcava a todo momento o lugar delicado em que nos encontramos, onde um grande cuidado deve ser tomado para não corroborarmos com o processo higienizador que os programas de saúde pública promovem sobre a máscara de um assistencialismo inadequado e despreparado, que atende a demanda do “incômodo social” no lugar de atender ao seu cliente primeiro, que nesse caso é o sujeito trans. Com isso, esse tipo de política, atende na verdade a “produção da ignorância” como bem destacou Fernando Seffner, resaltando também que tal ignorância é promovida não só pela fala socionormativa, mas também pelo silêncio, pela mensagem velada, que só promove mais horror.
Precisamos ser coerentes com o foco de nosso trabalho, em que a promoção de saúde, de direitos e de possibilidades se volta para esse cliente, esse sujeito em trânsito e que tem o direito de se manter nesse lugar, romper com a dicotomia, se assim desejar. Construir e re-contruir, significar e re-significar, dar o destino que melhor lhe convier para suas ansiedades e angústias.
Para mim, os três dias de evento foram de enriquecimento profissional, como eterna estudante, como clínica e como pessoa.